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Terapias Literárias

Atualizado: 17 de jan. de 2022


Tentei um título próximo a arteterapia, cromoterapia mas literaturaterapia ficaria muito estranho, esquisito. Ainda busquei "literapia", mas ficou pior, porém, acho que entenderam que desejo unir literatura com terapia, ou cura.

Schopenhauer, Augusto Cury, Rubem Alves, Epicuro, Camus, "Ele", o Mestre dos mestres, entre outros, nos ensinam como viver em nosso trágico mundo, porém, saboreando as belas coisas de nossa existência.

Nietzsche dizia que (logo ele), Schopenhauer tinha um perfume fúnebre e muitos concordam que era o mais pessimista dos filósofos. Já li inúmeras obras de Schopenhauer, mas a "Folha de SP" tem uma edição que considero uma lição de auto-ajuda, bem didática.

O filósofo faz uma evolução do ser humano em decênios, reforçando níveis característicos de cada fase. Assim, entre os vinte e trinta anos a referência é Vênus, onde o amor e as mulheres nos atingem quase cem por certo, ou como entre os 50 e 60 anos, quando nosso controle fica sob responsabilidade de Júpiter onde, segundo Schopenhauer "o homem já sobreviveu a muitos dos seus coevos e sente-se superior à geração atual. Ainda em pleno gozo de suas forças, é rico em experiências e conhecimentos".

Coevo? Sim, significa eternidade entre outras definições. E no final, Schopenhauer ainda une o fim com recomeços. Pode alguém assim ser considerado pessimista com perfumes fúnebres?

Será que a morte é realmente o fim?

Talvez possa ser um ensaio para recomeçar. Já contei esse caso, tenho uma amiga que estava vivenciando sintomas da síndrome do pânico, assustada sem entender do que se tratava, quando "caiu" um livro do Augusto Cury em suas mãos. Foi uma dádiva, esclareceu os "gatilhos" e orientou a amiga em busca de tratamento. É isso que estou falando, a literatura como ajuda, cura...

O "Estrangeiro" de Albert Camus é um clássico da filosofia existencial, conta a narração da vida de Meursault, um homem insensível que não percebe que sua vida sem sentido vai se desperdiçando. Foi insensível até diante da morte de sua mãe, mas quando está preso em sua cela, depois de ter cometido assassinato numa briga que não era sua, percebe que sua genitora "vivia", pois mesma idosa ainda ficou noiva, sempre buscando recomeços.

Agora, preso, Meursault sente a morte se aproximar e acha "que eu também estou pronto para recomeçar", porém, já é tarde. Quando acorda, vê que seu fim está próximo, não há mais tempo para reinícios. Quantas pessoas vivem sem emoções e só nos piores momentos sentem e dão valores às suas vidas monótonas.

O tempo é um instante, e vejam que interessante, até quando vivemos intensamente, e estamos de "bem com a vida", geralmente protestamos, o que não combina com celebrar a vida não é mesmo? Discernimento é essencial quando queremos "gritar" em nossas vidas...

E tudo está nos livros, a literatura como terapia, da mesma forma como as cores da cromoterapia. Ainda surgem novos caminhos, como a moda das mandalas terapêuticas, que além de suas belas gravuras, serve como ponte de ligação entre nosso interior e exterior.

Para Carl Jung, a mandala possui dois elementos, o primeiro conserva o equilibrado e o segundo restaura a psique do necessitado. Seus poderes curadores podem, e surgem, depois da obra finalizada. Incrível, a pessoa vai reconhecendo através das imagens, "traços" a serem corrigidos, pois algumas linhas estão distorcidas.

A inconsciência se revela apontando nossas negações. Já escrevi um conto de Tchekhov onde uma pessoa fica "presa" por 15 anos numa cela domiciliar devido a uma aposta. São 15 anos lendo, lendo, lendo e quando ai da auto-cela, percebe que é um homem livre, liberto...aprendeu tudo nos livros.

Tudo está lá, a ética, a moral, os ensinamentos, teses, teorias, tudo.

O filósofo Espinosa reafirma a ética e garante que agir corretamente é "reconhecer um determinismo natural em nós", nosso natural, nosso âmago, nossa essência encravados na ética. E Kant considerava a ética autônoma, ditando e coordenando leis de nossas consciências, onde vejam só, a consciência interage com a ética.

Que literatura esclarecedora e terapêutica, não é mesmo?

Em época de reclusão, ocupar o tempo com literatura revigora toda angústia daqueles que acham que vivemos tempos perdidos (vou lançar livro em Março, Abril, pré-venda logo, logo, com textos inéditos, um chamado "Tempos Perdidos?").

Reclusão? Não, tempo livre. É momento de reavaliar como encaramos esse tempo, independente de pandemias e crises.

Rubem Alves tem crônicas que elevam almas e espíritos, sempre valorizando o ser e o tempo, lembrando que se o relógio é símbolo de nossa escravidão, que aprendamos a lidar com ele. Não somos homens presos, ou pelo menos tentamos não ser pássaros presos enrascados em cotidianos. Se a vida realmente não é feita de festivais, exigimos liberdades que refutem leis punitivas de instituições repressivas. Somos luta e temos a literatura como colega e quando necessário, refúgio e cura.

Uma ode de melhores dias, onde cada instante torna-se efêmero de beleza. E para quem não curte leituras, saiba que 80% dos filmes que nos fazem chorar e se emocionar são baseados em obras literárias. Lá tem um autor, um escritor ou um nome desconhecido para você. Isso é literatura e cinema unidos formando uma Sétima Arte. Eles, unidos...curam.

O tempo também está lá com os coevos de John Ford. E se Schopenhauer trata nossa existência através de evoluções de dez em dez anos, Rubem Alves diz que somos eternas crianças que se renovam quando as pipocas explodem e renascem.

Isso é literatura limpa, esperançosa, alegre como as cores que pintam nossas auras, literatura que faz rir ou chorar, ou chorar de tanto rir, ela exige sua amizade pois sabe que além de literatura pode ser seu psicólogo ou psiquiatra.

Sirva-se.

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