A "Lá Bella Époque", foi mesmo bons tempos, mas não para nosso grande escritor clássico Lima Barreto, longe disso. Foi uma época onde todos sonhavam com a França, o centro cultural do mundo.
Uma visita a Paris era o máximo.
O progresso era expressivo surgindo o telefone, cinema e outras inovações que maravilhavam todos e onde o otimismo atingia até pessoas com tendências negativas. No Brasil do Primeiro Reinado, o Rio de Janeiro se modernizava com suas largas avenidas e a Semana da Arte Moderna de 1922 em São Paulo, foi revolucionária. Tudo lindo, chique e maravilhoso. Todos felizes curtindo uma bela época?
Deveria, mas o próprio movimento ou fase histórica escondia desigualdades e injustiças, como sempre. A Rua do Ouvidor no Rio de Janeiro, onde tudo acontecia, despontava com lojas de luxo. A elite carioca se deliciava em confeitarias, cafés e lojas com mobílias deslumbrantes. Um luxo parisiense. Porém, (lá vem ele), essa modernização saiu cara para uma sociedade menos favorecida. A chamada modernização autoritária obrigava a demolição de casas antigas e casebres das proximidades da Rua do Ouvidor.
Lima Barreto chamava essas velhas casas de "humildes casuchas", ou casitas, em seus romances. A tal urbanização da capital pelo presidente Rodrigues Alves, não perdoou nem partes dos morros próximos, e em pouco tempo, essas radicais transformações logo causaram revoltas. Também conhecida como política "bota-abaixo", as novas ruas destruíram centenas de casebres, ou como Barreto diria, casuchas. Ele também criticou o alto custo social das mudanças e diante de seu sofrimento e da população mais pobre, escreveu em seu diário intimo que "dolorosa vida a minha". Abordou ainda os aspectos sociais e políticos da Primeira República, de 1889 a 1930, criticando os preconceitos amargos da época, inclusive questões raciais. A elite então, perseguiu o escritor maldito acusando seus livros de conteúdos com "imperícias gramaticais", além de uma excessiva caricatura (vem à mente a cena de Policarpo Quaresma berrando e saudando visitas em sua casa, em tupi-guarani, um costume indígena). Ora, a caricatura, como a ironia, sempre foi uma arma de Barreto quando desmontava as ratazanas corruptas da República.
Um opositor crítico do governo, e é por essa característica ideológica, que as mazelas como sempre, choveram com pingos cortantes sobre sua cabeça.
Lima Barreto não tinha problemas "graves" com a escrita, ora, era a resistência da elite, como sempre, que naquele momento adorava as expressões e palavras francesas.
O crítico Antônio Armoni disse na época que a linguagem de Barreto era "rica de comunicação com recursos expressivos para a comunicação militante de sua arte".
Como amavam "coisas francesas", era difícil aceitar críticas de um mulato brasileiro. Um escritor chamado Figueiredo Pimentel (alguém já ouviu falar?), com seu olhar intelectual elitista dizia que o Rio de Janeiro civilizava-se. Esse é aquele típico colunista da atual "Caras", uma dondoca ratazana.
Imagina se iriam tolerar um Policarpo cantando o Hino Nacional em tupi-guarani, uma das genialidades de Lima Barreto. Entretanto, se outros escritores rejeitaram sua escrita com estilo brasileiro, ele próprio não abriu mão de sua originalidade com um estilo que recusava "receitas éticas impostas de cima para baixo".
Basta lembrar que se um violão não era algo salutar em casas de respeito, Lima Barreto reivindicava o instrumento como em "Triste Fim de Policarpo Quaresma", quando um personagem em certo momento, diz surpreso, "um violão em casa tão respeitável!". Faces de uma sociedade do início século XX.
Mas o mestiço Lima Barreto lutou enquanto teve forças, enfrentando as tendências que vigoravam e eram moda.
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 13 de Maio de 1881 no Rio de Janeiro, e morreu jovem com apenas 41 anos de idade. Sua árdua luta contra o sistema o levou ao alcoolismo e depressões, chegando a ser internado em hospícios várias vezes. É pessoal, criticar a elite tem seu preço em qualquer época.
Mas o mulato escritor maldito teve apoio de Monteiro Lobato (diferenças hein!), e o autor de Sitio do Pica-pau Amarelo publicou seus artigos na Revista do Brasil e lançou um de seus primeiros livros, "Vida e Morte de M.J. Gonzaga de Sá".
Como resultado, a Academia Brasileira de letras concedeu menção honrosa ao livro de Barreto.
Ele escreveu ainda inúmeras colunas denunciando os "instrumentos de propaganda do sonho republicano de falso progresso e de uma falsa civilização"...(plim-plim...)
Instrumentos de publicidade como certos Ratinhos que temos hoje em nossa midia e que ainda tem um filho governador no atual Brasil...tá loko.
Esse é o primeiro de três textos sobre Barreto, sua abrangência cultural merecia até mais, e no terceiro vou priorizar o romance "Clara dos Anjos".
Mesmo porque já citei muitas vezes o Policarpo em textos anteriores.
Angustiado, Lima Barreto perde a luta contra o alcoolismo e às ratazanas da "Bella Époque" carioca...os vovozinhos do Ratinho...
Ótimo texto!
A genialidade de Lima Barreto não foi aceita, assim como não são toleradas até hoje. Aqueles que se consideram "superiores" temem, ao reconhecer talentos, expor suas fraquezas. Mas, como dizia Lima, "Não é só a morte que iguala a gente. O crime, a doença e a loucura também acabam com as diferenças que a gente inventa.”