Tronos

Adoramos a paz.

Abominamos as guerras.

Mas basta assistir um filme ou seriado de guerra que estaremos lá torcendo para um lado como verdadeiro torcedor de futebol.

E de preferência, com morte do opositor.

O History2 (para mim um dos melhores canais da TV fechada) está apresentando em sua grade a "Guerra dos Tronos: uma história real" e vemos que as lutas de Fernandos contra Felipes e Eduardos são mais reais que imaginamos.

Reis lunáticos da Idade Média matavam irmãos, primos e quem precisasse para chegar ao topo. E se não bastasse eles, sempre eles, outro inimigo mortal matou quase a metade da população na época...a peste...

E pasmem, até João, o Bom, entra na carnificina nas guerras de meses, um ano, dez anos e acreditem, cem anos.

Não muito diferente de Brasília de nossos tempos.

Mesmo assim amamos as odisséias de Alexandre, o Grande e Napoleão Bonaparte.

Tratamos como herois...

Que contradição, só a guerra traz a paz ou a paz traz a guerra, já não tenho mais certeza qual a ordem das desordens.

Não quero seguir os passos de Paulo Honório de São Bernardo (Graciliano Ramos), "sei que fiz coisas boas e muito ruins, boas que trouxeram prejuízos e ruins que trouxeram grandes lucros", sim, ele fazia qualquer coisa para comprar, ou tomar, São Bernardo, não, não almejo seguir caminhos irracionais e desumanos.

Quero paz no coração e pisar leve para não acordar o dia, caminhar com dignidade e ficar distante do mundo "seco" e sofrido de Graciliano Ramos.

Os Santos também sofrem nas guerras dos tronos.

São Bartolomeu foi esfolado, Santa Martine pintada com a face ensanguentada por unhas de ferro e São Liévin teve a língua arrancada.

Vale tudo pelo trono.

Vai para o trono ou não vai? Dizia o velho guerreiro Chacrinha.

Ah, ia esquecendo de São Vital enterrado vivo. É, nem os tronos sagrados escaparam do terror.

Esses exemplos estão na revista "Inteligência", edição de Março de 2024 ao citar o livro "A História do Medo no Ocidente entre 1300-1800" do historiador Jean Delumeau.

É, as guerras dos dragões tinham precedentes com agressividades extremas.

O relevante é derrubar o outro.

Não lembra o capitalismo? Esfolar o próximo...

A psicanalista Marcia Neder lembra na citada revista que os antigos coliseus nada eram mais do que nossos atuais estádios de futebol, com torcida, bebidas, etc.

Os tempos mudam mas o sangue é o mesmo. A History2 já está na segunda temporada mas não se preocupem, vem aí a terceira, quarta, quinta...

Vale tudo pelo meu sucesso e cancelar o próximo não significa nada.

Vai para o trono ou não vai?