Vai-te, vai-te Moça Kalina
- cocatrevisan
- 10 de set. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 11 de set. de 2022
Quando Nietzsche disse que não podemos viver sem música, o filósofo sabia do que estava falando expondo nossas essências. A música é universal e quem pesquisar vai descobrir pérolas de arrepiar.
Faça um esforço e na folga, esqueça a música comercial. Com o YouTube e a internet, temos acesso à rádios dos quatros cantos do mundo, programações da Europa, Américas, Ásia, enfim...é só clicar...
Curto o Rockin'Roll, o Jazz, o Blues, o country, as flautas latinas peruanas, o new age, músicas clássicas, celtas...para ouvir, basta clicar...
Já publiquei textos sobre o Geraldo Vandré chileno, Victor Jara, e seus clássicos como "El direcho del vivir", embora o cantor não tenha conseguido fugir das garras assassinas do ditador Pinochet.
Dias desses descobri músicas do leste europeu num texto chamado "Canções do amor Balcânico", é de arrepiar.
Para revelar artimanhas das indústrias culturais, imaginem uma música como Nazad, Nazad, Mome Kalina(Vai-te, vai-te Moça Kalina) numa novela global, muita gente compraria o CD.
Mas se não dá na Globo a música não existe, comprovando as velhas (e atuais) teorias da Comunicação como a agenda-setting quando os temas da mídia comandam nosso cotidiano. Esse agendamento domina o pensamento do receptor, e "eles" se inserem em nossas mentes desprovidas.
Enfim, somos agendados.
Percebem?
A canção búlgara, incrível (autor desconhecido), arrebenta em shows no país e arredores. Confesso, fui ouvir depois de ler o texto e fiquei maravilhado com o vídeo no YouTube, a melodia, composição, tudo...
Um dueto fascinante, assustador até, pois um amor proibido e perigoso pode ter consequências trágicas.
A melodia é uma viagem às estrelas, lembra a new age de Enya e Loreena Mckennitt com sons e coros celestiais.
É, viajei mesmo.
Canções que falam de amor nos Balcãs é de salutar, uma região que convive com seus conflitos étnicos próximos a barris explosivos. Na Bósnia, as rosas não são de Hiroshima e muito menos as flores cheirosas que o amante leva ao seu amor, as rosas de Sarajevo tem pétalas vermelhas pintadas nas paredes com furos de balas cravadas em seus muros e paredes.
A guerra de 1990 ainda está na memória de todos e uma poesia da região diz que "esta manhã a rosa desabrochou para mim/ eu a vejo e me esvaio em pranto/ Rosa minha, eu te dei minha juventude/ Te reguei com minhas próprias lágrimas".
Que dureza.
Também na região, o presidente autoritário da Bulgária atual, Viktor Orbán, em sua juventude lutava pela liberdade contra imposições soviéticas.
Que mudanca ideológica não é mesmo?
E quando escuto uma canção como Nazad, Nazad, Mome Kalina, percebo a natureza da região, amarga mas resiliente e me emociono com a moça Kalina quando seu amante pede para ela se afastar, "não vem atrás de mim, pois há na minha frente uma floresta densa, que não conseguirá ultrapassar".
A jovem responde que quer ficar com seu amante e vai sobrevoar a floresta como um rouxinol e mesmo quando o homem lembra que há também um rio profundo, Kalina garante que se transformará num peixe forte para atravessar suas águas perigosas.
Porém, como na Bulgária toda história é dramática, quando o amante lembra que tem esposa e filhos, Kalina, agora, diz que vai ser como uma peste negra e matará a todos.
A paixão passando por cima da razão.
Um filósofo desconhecido para muitos (não encontro edições em português), Pierre Gassendi, dizia que um defeito que não podemos perdoar é de ter ilusões sobre o poder da razão. Que dilema seu Gassendi.
Enquanto isso, se a violência está sempre presente nos Balcãs, no Brasil temos que suportar a "namoradinha" do país.
Socorro Sinhozinho Malta...o Sargento Getúlio está desiludido, tanto quanto a moça Kalina...
Não conhecia a música. E olha que sou um pesquisador. Muito interessante.