"Lá vai uma vela aberta que caminha pelo mar...é um sinal que desperta", palavras de Walter Franco, um dos meus cantores preferidos na década de 70, 80.
Sempre que escutava o disco (vinil ) imaginava um barco seguindo no horizonte com suas velas abertas se afastando das nefastas veias abertas de Eduardo Galeano.
Uma jornada.
Ou uma fuga.
Pouco importa, meu imaginário rasgava os mares, afinal navegar é preciso. Viajar enquanto há tempo, navegar antes de ficar acendendo outros tipos de velas, aquelas das velhinhas.
E se você não estiver no mar, que suas velas levem aonde o despertar esteja aceso, iluminado. Na terra ou no mar, a esperança de ventos que sopram a nosso favor, como Bob Dylan diz, trazendo respostas.
Até a velhinha de Taubaté de Érico Verissimo crê nas velas abertas...bom...eu acho...
Em recente pesquisa ficou provado que netos que convivem mais com seus avós são mais felizes, vivem com almas mais serenas curtindo céus com suas auroras boreais.
É, as velhinhas transportam suas velas iluminadas, assim como os velhinhos não é mesmo?
O escritor romeno Ciprian Vãlcan em seu último livro alega que as velhinhas temem o juízo final porque elas não "se impressionam com o fogo do inferno, apenas com os fogos das praças públicas".
Sim, entendi o que ele quis dizer, a sabedoria da velhice, porém insisto na imagem carinhosa daqueles rostos enrugados. Coloco um sentido dúbio nas palavras do mestre, sim, reconheço minha petulância, mas não estou discordando de Ciprian, apenas suavizando e inserindo aromas do meu amigo Jesus.
Percebem?
Não temo o Juízo Final, mas respeito sua essência...e muito.
Talvez seja lá no final, ou no recomeço, o lugar onde vamos entender nossos âmagos definindo nossos objetivos e desejos assim como temporizar nossos monstros internos.
Sim, lá vai uma vela aberta caminhando pelo mar, conto com ela para iluminar minha jornada e mandar as vozes do mal para o fundo dos mares.
Conto com elas para que minha fotografia ainda tenha significados e ao contrário de Nando Reis, ainda me reconheço quando olho para meu espelho.
As crises de identidade pós-modernas de Stuart Hall podem destruir conceitos, mas conto com as velas abertas...que caminham para o mar.
E quando eu for um velhinho, não quero acender velas como do rabugento Sr. Scrooge me arrependendo de uma vida materialista.
As velhinhas que viveram com dignidade, essas, tenho certeza, estão no barco de Walter Franco. Elas já passaram por todos os tipos de seres humanos e aqueles que ainda se devoram, esses não importam mais.
Os jovens também, pois as velhinhas podem ser símbolos ou metáforas, como as palavras de Pablo Neruda ajudando seu amigo carteiro.
Ou como as vírgulas dos discursos de Michael Foucault. Com lucidez ou não, elas são almas das estantes brilhantes que parecem escadas para o Céu.
Saudades da minha mãe que partiu há seis anos com sua sala coberta de santos...e velas...
Uma pena, querido Coca, é constatar como existem velhinhas que tentar vedar a nossa vela . Um grande número de idosos participa de atos antidemocráticos e temem exageradamente, sair de sua zona de conforto. Coisa boa que não são todos. Vamos seguindo a Vela aberta com a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. Grande Wálter Franco!