Cenas clássicas de filmes de guerra, dois inimigos frente a frente, perdidos nas terras de ninguém, um encarando o outro.
Sempre revelando absurdos.
As vítimas, ou inocentes, sem saber porque estão ali. Os loucos comandantes decidiram por eles.
Um é Fritz, o outro Ivan, no terror da maior batalha de tanques de guerra que o mundo vivenciou e agora estão sozinhos nas florestas de Kursk. O acaso permitiu o insólito encontro e ambos, feridos, tentam entender a situação absurda.
Um oferece chocolate, o outro água na estranha gentileza que resiste nos âmagos humanos. Nenhum ameaça o outro. Quem decidiu o absurdo não está ali, está seguro em sua casa ou calculando os lucros de seus bancos.
O humano não importa, "nada de novo no front". Os rostos estão empoeirados (Verstaubt Sing die Gesichter), diz uma série alemã de curta-metragem, rostos do "outro lado" onde simples soldados também servem seus generais insanos.
Como a série alemã mostra, a guerra não escolhe lados e dizima homens de todas as nações e nas florestas russas, morrem um por um. Quem comanda ainda não entendeu sua responsabilidade social. Durante o exílio de 587 a 520ac, o profeta Ezequiel introduziu tal responsabilidade pois até então pensava-se que se sacerdotes, chefes, etc, pecassem, o povo sofreria também. Ezequiel tentou inovar com um princípio de responsabilidade pessoal excluindo essa visão, mas sabem como é né, os generais loucos são resilientes...muito resilientes...
Na batalha de Kursk, quase 3 milhões de soldados se enfrentaram e mais de 8 mil tanques realizaram a maior batalha do gênero da história. Parece inverossímil que dois soldados solitários possam ter esse insosso encontro.
Mais surreal ainda é ver dois inimigos mortais ajudando um ao outro, cenas que muitas vezes não existem entre dois irmãos.
Coisas de guerra.
Coisas absurdas.
Vítimas do Absurdo.
Absurdos para os dois combatentes ou para os milhares que tombaram na carnificina. Um absurdo que os loucos comandantes não querem ver, aliás, tenho certeza que eles não enxergam muito mesmo.
Chefes militares que mudam a linguagem e a semântica recrudescendo quando um "gênio" afirma que de nada vai adiantar ver, nada vai mudar, nada de novo no front.
Aliás, no livro de Remaque, tão bem apresentada em dois filmes (um de 1930 e outro de 1989), há também uma cena semelhante quando um soldado alemão fere um francês e os dois ficam horas numa trincheira. Ninguém aparece e o alemão vê o francês agonizando esperando a morte.
Só os dois.
O alemão (o John boy da família Os Waltons) chega a cogitar em escrever uma carta para a família do soldado francês pedindo, vejam só, desculpas.
Os corpos que não estão mutilados são corpos estendidos no vazio. E os que ainda estão vivos, não "estão mais ali". São corpos sem rostos, vazios, empoeirados, sem esperança.
Nada de novo no front.
E mesmo depois do final da Guerra, Stálin cria seus campos de concentração, (os gulag) e mantém 700mil prisioneiros húngaros, iuguslavos, etc, até 1949.
E com a concordância de Churchill e Roosevelt. Quando são libertados, escolhem novas nacionalidades, outro absurdo. Cada um escolhendo o mais conveniente pois suas vidas e famílias estão despedaçadas.
Alguns só visualizam o suicídio.
Dos 700 mil prisioneiros, 300mil morreram nos "gulags".
Uma das ingenuidades que me incomoda nesses filmes, trata do desejo de voluntários jovens esperando momentos de glória. Para esses, Macbeth de William Shakespeare alerta que enquanto bravos experimentados se amofinavam, os jovens guerreiros, sonhando com medalhas, muitos imberbes, sequer irão experimentar tais glórias.
As vítimas do absurdo.
Os sacrificados.
E os generais loucos não nos deixam nem em tempos de paz, e Thomas Hobbes lembra como eles agem, "não somente nas batalhas, ou no ato de lutar, mas em um lapso de tempo em que a vontade de travar batalhas é suficiente conhecida".
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