José Alberto era um rapaz latino americano insatisfeito com sua vida e sua rotina desgastada. Não era o homem extraordinário de Tolstói muito menos o homem ridículo de Dostoiévski.
Era um indivíduo solitário.
Infeliz.
Morava num grande centro urbano, bem empregado, mas sua existência exigia mudanças. Certo dia não aguentou mais e quando recebeu uma reprimenda do chefe chutou o balde.
Olhou para o chefe e desabafou, "a partir de amanhã não apareço mais por aqui". Quanto ao aviso prévio, mandou às favas.
Depois de sair do emprego, fez as contas e imaginou que teria dinheiro para 3, 4 anos e voltou para suas origens, uma pequena cidade do interior gaúcho.
Comprou um pequeno apartamento pela internet e pagou para ver o que vinha pela frente. Quando chegou ao seu destino se assustou com as condições da nova(velha) moradia. O prédio era mais feio e velho daquelas imagens da internet, porém, não desanimou e seguiu seu projeto de renovação.
Quase não saía de casa e ficava curtindo a sacada. Ficava indignado com rebocos que caíam em sua cabeça mas já imaginava tais dificuldades. O que importava é que estava em paz.
Com o passar do tempo fez amizade com seu novo vizinho, de sacada para sacada.
A gritaria incomodava o vizinho do andar abaixo mas as conversas seguiram normalmente.
Sua rotina mudou quando avistou na sacada do vizinho uma morena tropicana, linda, olhos verdes e coxas sobrenaturais. Seu Zé logo fez amizade com a deusa que era neta de seu vizinho.
Agora, o vizinho do andar abaixo não se incomodava com as vozes altas, pelo contrário, desejava entrar no grupo.
E a sacada de seu Zé agora era linda e seus rebocos voadores pareciam meteoritos coloridos e suas paredes sujas se transformaram em quadros impressionistas.
Depois de alguns dias, seu Zé, o Zé da sacada, convidou a gostosa, ops, a morena para um encontro. Ela topou.
Como terminou o encontro até hoje não sei, muito menos se teve sucesso ou se a menina preferiu o vizinho do andar abaixo.
Não sei se seu Zé ganhou a preferência, mesmo porque já disse, ele não era o homem extraordinário de Tolstói muito menos o homem ridículo de Dostoiévski.
Era apenas o Zé da sacada.
Um indivíduo buscando novas metas, novas experiências e rotinas diferenciadas.
Era o José Alberto tentando encontrar seu espaço em terras brasileiras, redescobrir sua identidade no mundo pós-moderno.
Queria assimilar antigas lições, porém morrer pela pátria não estava incluído em suas novas empreitadas.
Viver, talvez, uma paixão com uma morena tropicana com coxas de outro mundo.
Eis o Zé.
O Zé da sacada.
O Zé que entendeu o que representa uma sacada nos grandes e pequenos centros urbanos.
Sacadas onde podemos ver as estrelas, saborear vinhos e viver amores.
Ah, quem ficou com a Deusa não sei.
Quando eu descobrir se Bentinho foi traído ou não, talvez descubra com quem a linda da sacada, a outra, ficou.
Torço para o Zé...
Em relação ao livro Dom Casmurro, sempre pensei que foram coisas colocadas na cabeça do Bentinho. Quanto à crônica, a última notícia que tive é de que a morena vive feliz no litoral baiano e mesmo um pouco mais velha continua linda e gostosa. Teve um filho que não chega a ser o homem extraordinário de Tolstói e nem o homem ridículo de Dostoiveski. Foi casada com um homem que se internou por viver a paranoia de que o filho parecia-se demais com um antigo vizinho que tinha no andar de cima e pelo que soube, hoje implica com o morador do andar de baixo numa cidadezinha no interior do Sergipe. Quanto ao Zé, segue morando no seu antigo apartamentinh…