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Noite Feliz nas Trincheiras

  • cocatrevisan
  • 19 de dez. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 19 de dez. de 2022

Em outro texto, citei um dos personagens de Charles Dickens, o rabugento Sr. Scrooge, um ranzinza que se redescobre nas festas natalinas. A obra de Dickens rendeu inúmeros filmes e ficou mais conhecida em 2009 quando a Disney lançou "Os Fantasmas de Scrooge", uma animação digital com voz de Jim Carrey e direção do consagrado Robert Zemeckis (De Volta ao Futuro).

Comentei algumas semanas passadas sobre outro filme, produzido em 1970, onde Scrooge também nos emociona. Vale a pena.

Fui conferir outra, de 1935, igualmente emocionante quando os três fantasmas "visitam" o mesquinho Scrooge. Fantástico, ainda mais para aqueles que curtem velhas películas (boa essa hein!), em preto e branco.

E essa relíquia de 1935, das origens da Sétima Arte mostrando como as tecnologias evoluíram, porém relembrando que obras, verdadeiras raízes do cinema ainda mantêm seus encantos.

Sou daqueles que curtem a época natalina com suas luzes enfeitando cidades e lares. Até hoje decoro minha casa com presépios e luzinhas, escutando as tradicionais músicas natalinas. Sei que existe um número expressivo de pessoas que detestam o Natal, algumas ficam até depressivas, mas não é meu caso.

Pelo contrário, adoro, mas não esqueço o seu real significado, o aniversário do meu amigo Jesus.

O Natal existe. E ninguém é triste.

Pode ser uma festa religiosa ou não, mas vale ainda pela confraternização da família e dos amigos. E pelo aniversário do Mestre. E ainda que as famílias do século XXI já não são as mesmas, elas ainda demonstram faces de um retrato universal. É verdade que o perfil dos lares no Brasil, e nos quatro cantos do planeta mudou muito daquela família tradicional formada por pai, mãe e filhos. Atualmente menos da metade formam famílias dessa natureza. Em 2005 numa Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, o tema foi amplamente discutido para rever conceitos e como aceitar as novas "formas" das famílias, sem preconceitos, buscando reformulações tradicionais apesar das características já abstratas.

Porém, Natal é Natal.

O Natal existe. E ninguém é triste...diz a música natalina.

Época de ganhar (e dar) presentes do Papai Noel, nosso simpático gordinho e barbudo que teve origem com o Bispo São Nicolau no século IV, quando distribuía presentes para crianças pobres.

E o Natal consegue ainda realizar milagres, como o que ocorreu na véspera do Natal em 1914, durante a I Guerra Mundial. Alemães, ingleses, franceses e escoceses combatiam em suas trincheiras a menos de 100m de distância, as famosas terras de ninguém. Na ignorância e estupidez das guerras, no dia 24 de Dezembro de 1914, os alemães começaram a cantar músicas típicas do Natal acendendo balões, e de repente, pasmem, ingleses, franceses e escoceses responderam com outras músicas. Jogaram até partidas de futebol, imaginem, sabendo que nos próximos dias poderiam ser fuzilados. Não tem explicação o que os seres humanos conseguem fazer, de bem e de mal. Há filmes sobre o episódio e tem cenas de arrepiar. Mas acho que o melhor é esse, "Joyeux Noel", de 2006, onde os atores assumem os próprios idiomas dos soldados. Em português foi traduzido como Feliz Natal e se passa na castigada Bélgica, na região de Ypres. Soldados que horas antes atiravam para matar, agora estavam trocando chocolates desejando um Feliz Natal no meio daquele caos e horror. E se hoje reclamamos do desconforto de usar máscaras (algumas decoradas), imaginem as horríveis máscaras que os soldados usavam contra o gás mortífero de mostarda.

Simplesmente arrepiante, de fazer os loucos generais responsáveis pelas guerras sumirem do mapa com seus projetos imperialistas. Essa ganância e ambição dos generais, reis, czares e imperadores que acabou com a Bela Época e quando a Revolução Industrial, com suas invenções e a urbanização e todo um período de ouro foi água abaixo.

As batalhas de Tannenberg, Marne (início da guerra das trincheiras), Galípoli, Verdun, Brusilov, Somme, Passchendaele (morte de 97 mil soldados por metros de terras), Caporetto, Argonne e Vardar foram verdadeiras carnificinas indescritíveis.

A "necessidade" de buscar novos mercados, dizem os historiadores. A ideologia imperialista matando milhões, mas como diz o jargão, a vida segue e o Natal persiste.

O Natal existe. E ninguém é triste.

Paul McCartney fez uma música relatando a noite da trégua com sua genialidade diante da estupidez humana, chamada "Pipe of Peace". Alguns traduzem como cachimbos da paz mas o mais coerente, e acho que a intenção do ex-beatle era "Flautas da Paz".

McCartney diz que acendendo velas de amor, logo descobriremos que estamos todos juntos, tocando flautas de paz. É, senhores e senhoras, isso é o Natal, ele existe para ninguém ficar triste.

Esta aí para afastar, mas afastar mesmo nossas sombras para bem longe dos senhores da guerra.

Elevar não somente luzinhas coloridas, mas as luzes da alma deixando as sombras para trás.

Um dos psicanalistas mais influentes do mundo, Carl Jung(1875-1961), disse certa vez que nossa psique possui ao mesmo tempo, luz e sombra, e que a sombra é a "parte mais obscura da nossa psique onde depositamos tudo o que não aceitamos como parte da nossa personalidade".

Ora, se a sombra é difícil de ser "reconhecida" que fique assim, passando feixes de luz por cima, e se esse é justamente o perigo, deixemos onde ela costuma estar...atrás da gente...

 
 
 

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2 Comments


williakatia
Dec 21, 2020

Lindo texto! Que a nossa luz se revele ao outro e que nossa escuridão possa ser iluminada. Feliz Natal pra você!

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janembh
Dec 21, 2020

Que neste Natal possamos acender velas de amor e que essa luz divina traga paz aos nossos lares e ao planeta!

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