As 365 Noites
- cocatrevisan
- 26 de dez. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de out. de 2021
As diferenças e discussões entre otimistas e pessimistas ficam mais evidentes em todos os finais de ano. Para o rapaz de bom humor e sereno ou a menina (faço questão de sempre me referir ao time feminino), vem chegando mais 365 dias e outras 365 noites.
Enquanto isso, para o mano velho que não está numa boa, a frase preferida dele é "graças a Deus se foi mais um ano". Com a pandemia então, um prato cheio para o pessimista de plantão.
Apesar da desgraça do Covid, lembramos que estamos aqui ainda, nós, os terráqueos, e como diz um dos hinos riograndenses, nós vamos prosseguir, companheiro.
Já passamos por pestes, HIV, crises e seguimos "adelante". Quando surgiu a AIDS, lembram, nem transar mais nós poderíamos...tá loko. Na época, morava num condomínio onde residia um doutor conceituado no Brasil, e ele garantia que o HIV não era tudo aquilo e que o conservadorismo, a Igreja, etc, aproveitaram para explorar e difundir suas idéias.
Vou fazer uma pergunta, quantos conhecidos cada um de nós tem que morreram "realmente" do HIV? Eu tenho apenas um conhecido, e ainda por cima fazia parte de um grupo de risco. Evidente que todo cuidado é pouco, mas vamos em frente, pois virão outras pragas ainda (só em Brasília tem dezenas).
Então, bora lá que 2022 já chegou com seus 365 dias e...365 noites. Tenho muita coisa pela frente e os trabalhadores também.
Tenho dezenas de livros para ler, mais uns cinco Gre-Nais para ganhar (faz 15 que não perdemos), filmes e séries para assistir, lançar meu livro baseado no blog, Uhtred vem aí com nova temporada e aí me lembro da Lagherta dos Vikings, com suas lindas pernas, ops, bravura.
Tenho 59 anos e só falta mais um
para ter preferência nos estacionamentos, filas de bancos, caixas lotéricas, uhuuu...
Aprendi com o Schopenhauer que temos que ter planos e objetivos para os 20, 40, 60, 70, 80 e até 90 anos. Verdade. É isso aí, caso contrário, poderemos esmorecer.
Já estou com meus planos fechados para meus 60 e poucos anos de idade. E se "partir" antes, tudo certo, seguirei minhas viagens em outros planos, conforme as jornadas prometidas pelo meu amigo Jesus.
Vou confessar uma crença particular, não aceito que não vou ver mais familiares e amigos que já partiram. Não tem fundamento. Vou encontrá-los não sei como nem onde, mas que vamos ter "contatos", vamos. Acredito mesmo.
Esse texto surgiu com a idéia das 365 noites, quando comecei a pensar no Ano Novo. Não estava disposto a escrever aqueles textos "chatos", tudo de bom, no próximo ano vai dar tudo certo, Feliz Ano Novo, etc, e lembrei das "As Mil e Uma Noites", clássico da literatura. E aqui percebi um texto que celebra a vida, nossa persistência, resiliência e como temos que nos reinventar todos os dias. A história conta que o sultão Schahriar foi traído pela sua esposa e mandou seus serviçais executá-la.
Depois disso, sua crueldade fez com que em seus outros casamentos, o sultão fizesse a mesma coisa. Casava, passava a noite com a nova esposa e na manhã seguinte mandava matar elas...todas elas...
Transcorria o ano de 786 em Bagdá, e mesmo com o horror de seu reinado, ele teve bons momentos, quando se disfarçava para caminhar no meio do povo para conhecer as dificuldades de seus súditos. Mas a maldição das esposas prosseguia. Até que certo dia uma filha do seu secretário geral, o grão-vizir (aquele do Zé Ramalho), resolveu casar com o sultão. Seu pai ficou apavorado negando sua vontade, mas ela garantia que tinha um plano para acabar com a matança.
Ela casou. Passou a noite com Schahriar e contou uma linda história
para o sultão não revelando o final da narração. Ele, muito curioso, não matou a querida Sherazade, pois, evidente, queria saber o final da história. A linda e jovem esposa tinha tantas histórias para contar que o rei acabou poupando a vida dela, e quando percebeu, já haviam passados mil e uma noites encerrando o trauma da infidelidade.
Todas as noites, Sherazade tinha que se reinventar, sua vida dependia de sua força de vontade e revelava mecanismos de uma sociedade onde as mulheres eram consideradas seres "inferiores".
Questões políticas também estão inseridas na história do sultão, mas quero dar ênfase para a valorização do cotidiano. Assim como Sherazade, temos que criar "vontades" todos os dias. Como dizem os autores de auto-ajuda, a necessidade de cada um reinventar sua existência e seu cotidiano para viver curtindo todos os momentos possíveis, acreditando que mesmo passando por dias infelizes, o que importa é saber viver, como os Titãs cantam, nos 365 dias e...suas 365 noites.
É o caminho, pois somos uma nuvem passageira que com um vento se vai, garante a letra da música de Hermes Aquino, clássico dos anos 80. E se somos uma nuvem passageira, então vamos flutuar da melhor maneira possível, e impossível, durante 365 dias e todas as consequentes noites.
Hermes Aquino diz que somos como um castelo de areia que com um vento se vai e que "também não adianta escrever meu nome numa pedra, pois essa pedra em pó vai se transformar". Perfeito.
Num dos contos de Sherazade, três irmãos são apaixonados por uma mesma mulher. O pai do trio apaixonado manda eles viajarem e aquele que encontrar o presente mais curioso ou valioso, irá se casar com a mulher dos encantos da irmandade. Como terminou a história? Não vou contar, pois sou como a Sherazade (do lado masculino né!), e quem quiser saber o fim da historia, lembre-se que somente em 2022 tem 365 noites para ler o livro...
Parabéns! Se reinventar todos os dias. Vou refletir. Abraços
Maravilha de texto! Bela analogia com as mil e uma noites. Parabéns!