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As Luvas do Machado

  • cocatrevisan
  • 23 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 31 de out. de 2021

Considero Machado de Assis e Lima Barreto os melhores escritores da nossa rica literatura clássica. Quem sou eu para tal afirmação? Vou refazer a frase. São os escritores de minha preferência. Para aqueles que preferem José de Alencar (Vou arrumar briga aqui), saibam que ele era escravocrata. Peguem "O Guarani" e vão pra África.

Importante ressaltar que o livro "A Mão e a Luva"(1874), foi publicado na época da Guerra do Paraguai e, portanto numa época com seus movimentos libertários contra a escravidão.

Machado foi um guerreiro. Pobre, autodidata, se construiu "solito", como diz o gaúcho, e sobreviveu no meio das ratazanas, o que Lima Barreto não conseguiu.

A verdade deve ser esclarecida, não é mesmo? Vejam só, estou imitando Machado, ao conversar com o leitor. Mas nossas semelhanças param aí.

Quando falamos em obras machadianas, logo citamos Dom Casmurro, Quincas Borbas e "os primeiros vermes"...

Não sei porque "A Mão e a Luva" é pouco lembrada. Para mim, leitura essencial entre as obras do bruxo do Cosme Velho, apelido dele pela sua genialidade e mágica literária.

O romance narra a história da jovem Guiomar de 17 anos, e seus 3 pretendentes: Estevam, Luis Alves e Jorge. Os interessados cortejam a bela jovem, que por sua vez, demora para decidir sua preferência.

De origem pobre, ela é criada por sua madrinha, uma rica baronesa.

Ambiciosa, ela deseja uma ascenção social e escolher a mão certa com muito cuidado, e certos interesses envolvem suas luvas. O velho dilema: quem é mais feliz, o apaixonado correspondido que vive embaixo da ponte ou a dissimulação de um falso amor numa lindíssima cobertura? Como diria Brizola, os interésses...

Guiomar demora para decidir seu futuro. Instável mas manipuladora, "não saberíamos o que ela queria, tinha uma alma singular. Passa facilmente do entusiasmo à frieza, da confiança ao retraimento".

Ela tem o tempo a se favor, pois além da beleza, "à flor da terra", não se apressa, e vai analisando seus pretendentes. A obra da fase romântica de Machado eleva nossas dúvidas, nossas escolhas, nossos destinos e nossas luvas, ou mãos.

Se a Luva será de ótima qualidade, só o tempo dirá. Se existem luvas preciosas, outras porém de tão violentas, parecem luvas de boxe.

Enquanto isso, nosso mundo gira.

No século XIX, entre os anos 1863 e 1873, a economia torna-se mundial, o imperialismo europeu está presente em quase todos continentes, e as potências européias buscando suas luvas, mãos, tudo...e Guiomar não foge do contexto. Machado diz que tem pessoas com 50 anos que parecem não passar dos 15 pois o "crepúsculo é o prolongamento da aurora".

Em outra obra, Machado de Assis revela uma máxima, "um dos maiores erros das pessoas, é levar a sério o ridículo, e o ridículo a sério ".

Quantas vezes perdemos tempo discutindo banalidades. Como se a cloroquina do Bolsonaro vai curar alguém. Enfim, cada ser quer sua luva. Procurando suas mãos de ouro.

Como diz o ditado, bom é quando "aquilo" caiu como uma luva.

Guiomar, interesseira, decide finalmente a mão que mais lhe convém, mas para você saber, vai ter que ler o livro.

E que suas mãos encontrem as luvas merecedoras, e aqueles que estão com as luvas nas próprias mãos, não fiquem tristes, quem sabe não é melhor assim...

 
 
 

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