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O Engano de Dorian Gray

  • cocatrevisan
  • 2 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 31 de out. de 2021

O culto a beleza não é coisa nova e sua exigência com seus corpos perfeitos, tanto da mulher como do homem, já eram retratados com Oscar Wilde e seu clássico "O Retrato de Dorian Gray", de 1890.

Dorian é um homem muito bonito, que teme a velhice. Para ele, viver essa etapa da vida é algo insuportável. Quando o personagem Basil pinta o retrato dele, sua obra prima, surgem questionamentos existenciais. O principal personagem de Wilde sente que sua beleza vai abandoná-lo com o passar dos anos.

"Como é triste, vou ficar velho, feio, desprezível, mas esse retrato ficará jovem para sempre. Nunca será mais velho do que nesse dia de Junho", diz Dorian Gray, desejando que o tempo estagnasse naquele dia, naquele momento.

Quando outro personagem, Lorde Henry contempla pela primeira vez o quadro, extasiado pela pintura que está se "refletindo nos raios oblíquos de luz, que penetrava pela porta aberta, e minúsculas partículas douradas dançavam...", para Dorian, amargurado diante da mesma arte, sua vida torna-se amaldiçoada pelo quadro de Basil. O quadro vai zombar dele um dia...

Dorian Gray não quer saber de um mundo, como o medieval, por exemplo, onde Reis, Igreja e Magos dominavam e determinavam o que era belo. Seu mundo é regido por sua beleza, ela está acima de instituições, leis ou belezas temporais. Ele quer e exige sua beleza imortalizada.

Se na Idade Média a beleza da elite era com cabeleiras ridículas, se nos anos 60 os jovens usavam cabelos compridos...nada, nenhum modismo tem a ver com Dorian. Sua beleza não pode passar e essa é sua maldição, e é esse fenômeno que o retrato está "cobrando" dele. Ele tem ciúmes do quadro e de tudo cuja beleza não morre. Se vivemos em sociedades, temos nossas genéticas e somos programados pela natureza, Dorian Gray quer ver sua beleza acima de tudo. O mundo físico, mundano, deveria ser estático pela sua esplêndida beleza. A beleza construída não deveria nunca ser destruída para o personagem de Oscar Wilde, ele deve ser atemporal, acima da natureza humana e até mesmo do cérebro...

O valor estético de Dorian está nas galáxias, milhares de distância daquela frase do filósofo Bacon: "nossas evoluções filosóficas deveriam ser prioridade na ciência, na natureza". A beleza representa mais, e envelhecer para o ego de Dorian Gray, não faz parte desse ciclo natural. Nem para o cérebro.

Mas, não adianta, não existe vacina contra a velhice, nem contra o desgaste cerebral. Não fico amargurado como nosso amigo, estou com 59 anos de idade e pretendo passar pelos 69, 79, 89, quem sabe mais...mas aí, quem decide é outro amigo, Jesus.

Enquanto isso, vamos saborear as palavras do filósofo Schopenhauer, que revela como encarar cada fase de nossas vidas. O filósofo alemão, que viveu de 1788 até 1860, ensinou que se na juventude temos força e enorme ímpeto, pecamos pela ansiedade, enquanto na velhice, "acalmados por completo", vemos beleza em miudezas. Para ele até os 10 anos, "estamos" em Mercúrio, a rapidez é elemento principal. Até os 20 anos, amor e mulheres (Vênus), aos 30, já aprendemos o que queríamos (Ceres), com 40 anos, a autoridade esta acima de várias características (Júpiter). Assim, vamos indo, aos 60, peso e lentidão configuram Saturno e dos 70 em diante, Urano vai mostrando as caras do Céu.

Estou em Júpiter, e segundo Schopenhauer, já passei por muitas pandengas e agora "me sinto superior à geração atual". Deve ser naqueles momentos quando estou escutando Bob Dylan e o vizinho Anita. De qualquer maneira, voltamos àquela questão que realça o hoje de cada um. Viver o presente e pensar o futuro. Nisso, Oscar Wilde e seus personagens se enlaçam no hedonismo. Não devemos desperdiçar o ouro de nossos dias, buscando sempre novas sensações. Sensações essas, que estão presentes em todas as fases da vida, e não apenas, como Dorian Gray supõe com sua beleza momentânea., apenas na juventude ou como diz Schopenhauer, em Vênus.


 
 
 

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