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Pelo Contrário

  • cocatrevisan
  • 19 de mar. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 19 de mar. de 2023

Dizem que o cineasta Godard gostava de começar suas frases dizendo "Pelo contrário". Tanto é verdade que tinha um grupo denominado assim.

Basta analisar seus filmes para comprovar a temática, as dualidades, os embates.

Talvez essas pluralidades possam explicar um pouco, se possível, porque ele tomou a radical atitude de encerrar sua vida aos 91 anos com um "suicídio assistido".

Sim, isso existe e é permitido na Suíça.

Estranho não é mesmo?

Pessoas próximas na época diziam que ele estava esgotado e quase não conseguia ficar em pé e resolveu que era tempo de morrer.

Sou existencialista e procuro curtir meus momentos e o tal propagado "agora", viver o hoje, o carpe diem.

Aliás, o tema é moda na literatura, "Viva o Agora", "O Agora é Tudo" e por aí vai a lista de best-sellers. Mas afinal, o que aconteceu com Godard? Sim, estava cansado, velho, mas logo ele que realizou obras existencialistas que ficaram na história do cinema?

Por isso considero Schopenhauer o pessimista mais otimista que já li, adoro sua divisão de nossas jornadas em décadas. Que legal ter metas para os 90 anos...

Estar ansioso para alcançar a década de 90 anos.

Porém, como há vida, há morte, ou "pelo contrário". Evidente que ninguém (ou quase) deseja morrer mas lembram daquela crônica que escrevi "Precisamos Morrer"?

Relembrando, uma família descobriu a fonte da juventude, porém eles se tornaram os humanos mais infelizes do planeta com vidas anormais, sem sentimentos, afinal estariam sempre com a mesma idade, a mesma aparência, sempre, sempre...sempre.

Percebem como a morte faz parte do processo? Então, enquanto estivermos por aqui, vamos seguir as palavras de Anton Tchékhov, curtindo as estradas sinuosas, os mares, os rios: "a montanha linda e sinistra estava cortada por rachaduras e gargantas estreitas das quais vinham sopros de umidade e mistérios".

Só quem anda devagar vai curtir gargantas estreitas deslizando nas montanhas...

E no mesmo livro (O Duelo), Tchékhov dá chance ao oposto quando um personagem diz que não vê nada de bom na natureza, nenhuma beleza e ficar admirando paisagens significa pobreza de imaginação.

Vejam só, "pobreza de imaginação".

Tá loko.

Corra imbecil.

Corra que a polícia vem aí.

Corra, corra, corra...

Eu, pelo contrário, vou caminhando e cantando, com passos leves para não acordar o dia observando os mínimos detalhes da natureza.

E do ser humano.

Quero ficar sentado na frente de minha casa, quieto, lambendo minhas próprias feridas como sugere Raul Seixas.

Quietinho, com minhas taças de vinho olhando para meu amigo Adalberto (sim, a coruja).

Vendo as enormes folhas da bananeira rebolando aos ventos noturnos.

Vendo seus enormes canudos se abrindo.

Só não vendo (agora do verbo vender) minha paz e serenidade.

Muito pelo contrário. Meu duelo segue a cartilha de Théckhov, aquela que lembra duelos espirituais, muito diferente dos duelos mortíferos.

Um duelo ao contrário, aceitando o outro, e é Théckhov que situa oposições ideológicas e existenciais quando cita um personagem que não entende o trabalho de um zoobotânico, "como é possível se ocupar com bichinhos enquanto o povo sofre".

A resposta é devastadora.

E humana.

"Não se trata de bichinhos, mas de deduções "...



 
 
 

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1 comentario


Maurício Prado Becker
Maurício Prado Becker
17 abr 2023

Coca, muito boa a crônica. Aberta às reflexões. Sobre Godard achei-o coerente em sua decisão se esta foi a sua escolha. Sou do tipo que também vive sem pressa. Com quase 62 anos de idade, sonho em ser um bom trompetista aos 90. Mas a parte engraçada é que na passagem em que relatas das taças de vinho, olhando o Adalberto, não pude deixar de lembrar de uma velha música do Nei Lisboa " Bem velhinho, assim,sozinho. Ali, bebendo um vinho e olhando a bunda de alguém." Te cuida Adalberto...

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