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Roberto Car Ribeiro (Microhistoria II)

  • cocatrevisan
  • 18 de out. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de out. de 2021

Adoro microhistórias. Histórias de heróis que geralmente não estão nos livros didáticos e na literatura em geral.

Feitos que ninguém conhece. Personagens que realizaram grandes obras mas ficaram num contexto menor, quase anônimos.

Esse é o segundo texto referente à microhistórias e ainda vou publicar outro, de um verdadeiro herói da nossa história, aliás, já comentei sobre a microhistória propriamente dita e agora narro representantes dessa disciplina. Quem conhece o desembargador Roberto Car Ribeiro? Não, não é o rei da música nem nossos atuais desacreditados desembargadores.

Ribeiro teve atuação destacada nas invasões francesas no Brasil Colonial e seus méritos deveriam ser estudados nas escolas como verdadeiro exemplo, de quem travou grandes feitos e ficaram desconhecidos. Essa é a relevância da microhistória, dar voz aos injustiçados.

Aquelas figuras que valem pesquisar, deixando para trás do quarto dos fundos, fofocas sobre com quem o filho da Rainha da Inglaterra vai casar ou das ignorâncias de uma Luana Piovani.

Como digo, as histórias desses desconhecidos são muito ricas, basta pesquisar para entender suas vidas fantásticas e exemplos de ética e moral, e que tanto faltam aos nossos desembargadores da atualidade. Fica claro que para ser digno em qualquer processo histórico, tais personagens não necessitam serem elegantes, bonitos ou comunicativos.

Suas histórias revelam até casos surreais, tanto em situações positivas ou negativas como do francês João Leygos que para permanecer no Brasil, no início do século XVIII, trocou seu nome, e ao morrer foi considerado "bom católico", pois tinha "somente" quinze escravos.

Que amor de rapaz. Ah, ele trocou o nome para Pedro da Fita, o fita da p....

Não faz muito tempo, assisti na netflix o filme "Até o Último Homem", história de um soldado que com sua moral religiosa, se tornou herói na Segunda Guerra. O soldado Daniel Doos lutou como médico e se recusou com veemência a matar inimigos, causando desconforto até com seus companheiros. Nem o horror da guerra quebrou sua dignidade e sem dar um tiro, salvou inúmeros soldados com feitos heróicos expressivos. Essa coragem só ficou conhecida devida à sétima arte, mas ainda assim digna das origens das microhistórias

Uma outra questão dessa visão de estudo leva a pormenores, a qual situa a cultura no cotidiano histórico.

Oscar Wilde disse certa vez que quase todas as pessoas julgam as demais pela aparência. E que por mais que tentem, até sociólogos dançam nessa ciranda. Pode ser, mas prefiro visualizar outras "mensagens" nos personagens que deixaram suas marcas (grandes ou pequenas), em suas devidas fases históricas. Gosto muito também da "história" de Norberto Elias com suas análises comportamentais, mas gosto mais ainda daquela parte acadêmica que pesquisa a história vendo além das roupas e costumes. Sem menosprezar, evidente, essas histórias culturais. Como o soldado Doos, ou como a do desembargador Roberto Car Ribeiro.

Ele foi provedor da Fazenda Real, doutor e salvou uma grande soma de ouro nas pilhagens francesas.

Sempre foi considerado um servidor exemplar com várias promoções. Em 1711 percebendo que os franceses iriam ocupar a cidade, retirou barras de ouro que estavam na Casa da Moeda e com seus próprios empregados escondeu o tesouro em São Cristóvão para então, transportar com segurança para o Porto de Iguaçu.

Sabendo do perigo de desviar o ouro pelo mar, subiu a Serra do Mar e com esforço descomunal escondeu a mercadoria na distante região do Alto Paraíba.

Imaginem senadores atuais "salvando" quantias do estado em ações de grande perigo. Haja cuecas para transportar barras de ouro.

São esses feitos que me fascinam na microhistória. O soldado Daniel Doos salvou dezenas de companheiros feridos, buscando eles, sozinho, em missões quase suicidas e Roberto Car Ribeiro também sozinho, salvou nosso tesouro real. Sozinho, pois quando pediu ajuda, as autoridades se recusaram a ajudá-lo diante da pressa e do caos da invasão.

Somente com a microhistoria temos condições de rever narrações "pequenas" com sua devida relevância.

Peter Burke disse certa vez que desde o início de sua carreira como historiador considerava que seguindo Marx e Braudel, a maneira correta de estudar tanto o passado como o presente seria através de grandes estruturas ou profundos acontecimentos. Porém com o surgimento e crescimento da microhistória, ele mesmo reconheceu que "hoje já não estou tão seguro de que exista uma maneira correta de estudar história".

O soldado Daniel Doos e o desembargador Roberto Car Ribeiro agradecem...

 
 
 

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