Quando digo que história em quadrinhos (HQ), é coisa séria, posso incluir aí vários desenhos animados.
Alguns deveriam ser estudados em escolas e até universidades. Além de trazer reflexões obrigatórias para os pais.
Algumas obras têm muito conteúdo e um deles foi "Divertidamente", oscar de melhor animação em 2015. O desenho conta a história da menina Riley de 11 anos, que passa por um turbilhão de confusões quando sua família muda de cidade. Suas emoções ficam sensíveis e agitadas.
Dentro dela existem animações representando cada emoção, todas orientadas pela sala de controle. Lá estão a alegria, tristeza, raiva e medo, entre outras, como personagens.
Sensacional.
Eles falam frases poéticas, filosóficas, engraçadas, dramáticas, tem de tudo. Seus diálogos são profundos e trazem reflexões para o mundo adulto além da diversão para a criançada.
Enfim, são muitas...emoções.
Incrível, você se identifica, vê problemas de seus filhos e ainda lembra de conhecimentos que nos arremetem a Augusto Cury, Heideger e por aí vai.
Os personagens de Divertida Mente revelam a essência de nossos sentimentos e nuances do diálogo familiar entre os "pequenos" de todas as gerações, fases e idades.
Na sala do controle, a alegria tenta sabotar a tristeza prendendo ela num círculo, mas logo percebe que uma completa a outra. Como o filósofo Heideger dizia, o lado negativo de nossas vidas é tão importante quanto nossas alegrias, pois, por incrível que possa parecer, a tristeza pode ter elementos motivacionais. Se ela pede socorro então está solicitando atitudes né? Vejam só, a tristeza possui certa ligação com a resiliência. Genial.
Numa cena, a personagem da boneca da alegria precisa sair do fundo de um vale onde havia caído, ela tenta, e tenta, e somente na terceira tentativa supera a dificuldade, lembrando uma metáfora depressiva.
Conforme Pascal e Kierkegaard, as nossas misérias humanas estão presentes tambem na infância.
E a narração do desenho animado tem ainda um festival de frases e personagens, verdadeiras pérolas. Estão lá o amigo imaginável, a terra da imaginação, a cidade das nuvens, os castelos de cartas e o "trem do pensamento", que pára quando dormimos.
A obra da Disney apresenta ainda cenas criativas como desilusões através de desmoronamentos e descontrucões.
Nossas emoções são e estão vivas, (às vezes irracionais), negando que o mundo se explique naturalmente por teorias cartesianas.
Se nosso mundo fosse assim, mecânico, ficaria muito difícil repreender nossas angústias e tristezas. Tem algo mais, tem algo superior, tem "Alguém" para socorrer nossas emoções negativas.
E não podemos esquecer do nosso inconsciente e subconsciente, eles também querem entrar nessas teias de emoções, afinal ambos têm esse direito.
O inconsciente é aquela percepção estranha. O filósofo Leibniz disse que "toda alma conhece o infinito, conhece tudo, mas confusamente, como ao passar à beira do mar e ao ouvir o grande barulho que ele faz, ouço os barulhos de cada onda a partir das quais se compõe o barulho total, mas sem discerni-los, nossas percepções confusas são o resultado das impressões que todo o universo exerce sobre nós". Da mesma maneira à noite, quando ouvimos sons da natureza vindos lá da distante montanha.
Enquanto isso nossos bonecos na sala do controle (a "raiva" é uma figura), estão agitados no interior da Riley e, assim como Augusto Cury diz, eles estão preocupados com o subconsciente, "lugar para onde vão nossos problemas".
Lembrei dos gatilhos do Augusto Cury. E para fugir do desespero humano (Kierekegaard), a síntese não é a discordância, é apenas a sua possibilidade e sua presença. As emoções de Riley comprovam né...
Quando ela sente a emoção do tédio, eis aí o desespero, um espírito doente, e agora temos que extirpar esse desespero do fundo do subconsciente e assim mandar esse desgraçado para os quintos dos infernos. E o tédio idem.
Tédio que segundo Kierkegaard "é uma eternidade sem conteúdo, uma felicidade sem gozo, uma profundidade superficial, uma saciedade faminta".
Quantos labirintos e cavernas do desenho animado "Divertidamente" mostram com genialidade os caminhos de nossas emoções, as avenidas, ruas e ruelas onde perambulam a alegria, a tristeza, medos, angústias, ânsias, enfim, vivemos mesmo muitas...emoções.
Concordo com você. De um jeito lúdico, alguns desenhos animados podem nos fazer pensar... Belo Texto!