Quando ainda morava em Porto Alegre na década de 90, sempre visitava Balneário Camboriú nas temporadas. Foram muitos hotéis, pousadas e apartamentos alugados.
Certa vez, fiquei hospedado no mesmo hotel três anos seguidos e o senhor proprietário (já falecido) era muito simpático e religioso. Muitos debates encerravam com ele questionando "E o vento?", "Quem faz o vento?". Nunca esqueci nossas discussões acaloradas, mas amistosas. Nossos papos começavam "numa boa", um acreditando nisso, o outro naquilo, um defendendo isso, o outro aquilo, um citando Zaratustra, o outro Jesus, um declamando versos católicos, o outro com citações espíritas, um lendo o Evangelho, o outro Santo Agostinho...mas encerravam com o "vento"...
O vento e o tempo, o tempo e o vento, e o vento levou...é, o vento amigo e agradável pode ser o mesmo dos trovões e naufrágios.
Daonde ele vem? "Do incomensurável. Os seus grandes vôos exigem o diâmetro do golfão, e suas asas desmedidas precisam das solidões indefinidas"(Victor Hugo em "Os Trabalhadores do Mar").
Ele é dúbio. Nada mais agradável daquela brisa no calor do verão, aquele vento colorido da vida, porém, quando está zangado pode causar caos e mortes. Quantos cadáveres embaixo dos mares. Os ventos raivosos causando tremores desesperadores com gritos humanos nos naufrágios dos sete mares.
Elemento da natureza, ele dá as ordens e resta ao homem se consolar com suas benevolências ou males. Quando resolve revelar suas faces selvagens, a barbárie vem em forma de tornados, trovões e tempestades.
Victor Hugo acrescenta, "Os ventos empurram sem piedade a grande massa obscura e amarga. A gente os ouve, mas eles não ouvem a ninguém".
São independentes esses, esses...esses Ventos. Fazem o que querem. Zé Ramalho dizia que todo céu começa a se abrir numa fenda de loucos pensamentos. Sim, os ventos abrem e fecham céus...
Porém, não podemos viver sem eles. Não foi o vento que trouxe portugueses, espanhóis e franceses nas grandes navegações? Vejam só, ainda fazem parte da História esses, esses...esses ventos.
E causam maremotos. Fernanda Bienhachewski, amiga e poeta virtual descreve o poema "maremoto" em seu livro "Na órbita dos Espirais".
"Tem dias que o mar está tão revolto, que tenho medo de me afogar. Tem dias que as ondas me golpeiam com toda força, que minha única ação, é permanecer imóvel. Perante a possível catástrofe, diante do inevitável precipício. Ah, tem dias que a única recomendação, é silêncio, Paz, Solidão imediata". É, temos que respeitar os mares e esses, esses...esses ventos.
Quando nos deparamos com eles, eles mandam, se aproximam ou se afastam, e lançamos nossa sorte ao desejo deles. Eles correm, vivem, revivem, são calmos ou desvairados, seus rumores causam tumultos e seus dias calmos nos trazem horizontes existenciais...esses, esses...esses ventos
Tem ainda o vento negro dos Almôndegas. Eles foram um grupo musical Gaúcho nos anos 80, 90 e um de seus maiores sucessos foi Vento Negro que dizia que tudo começa e termina com o vento pois somos vento negro. E diziam ainda que "quem me ouve vai cantar, não queremos guerra, pois o vento negro é furacão".
Então minha gente, vento é tudo isso, é natureza, espírito, história, imaginação, literatura e outras coisas além...
Imaginação sim, ora, pois se não o vemos, imaginemos. Da mesma maneira quando você acaba de ver algo agradável e fecha os olhos, continua "enxergando" a bela visão.
E, depois de tudo isso, (lá vem ele), tinha que encerrar com Blowind in the Wind, de Bob Dylan, onde o the best garante que todas as respostas virão...com o vento...
Lindo texto! Porque é livre, o vento nos cativa. Parabéns!